INVERNO EM GRAMADO de Christiane Couve de Murville
Resolvi viajar. Estava cansada da correria do dia a dia, precisava mudar de ares. Além do mais, não me sentia nem um pouco realizada trabalhando em uma empresa multinacional. Reconhecia que tinha feito escolhas erradas e seguido gente que não me encantava. Mas o que fazer agora? Eu não era mais tão novinha. Que rumo tomar? Com a cabeça a mil por hora, repassava tudo que havia feito, ou não, e me sentia sozinha, perdida, desamparada. E ainda havia aqueles episódios mais desagradáveis que volta e meia vinham à lembrança! Difícil deixar tudo para trás, perdoar aqueles que tinham me magoado e a mim mesma, pelas bobagens cometidas, e seguir em frente. Insatisfeita, assim como estava em relação tudo, não era de se espantar que minha autoestima estivesse lá embaixo. Eu chegava a sentir vergonha de quem tinha me tornado e imaginava que não seria digna do apreço de ninguém.
Mas eu precisava sair dessa situação. Logo, aproveitando a temporada de inverno, faria um tour na Serra Gaúcha. Tinha acumulado pontos no meu cartão de crédito, iria conhecer Gramado e Canela. Seria uma viagem inesquecível. Eu tinha esperanças que uma mudança de cenário poderia me alargar os horizontes e me tirar do tormento no qual vivia mergulhada, que me roubava o pouco da disposição que ainda me sobrava. Era necessário me mexer, fazer alguma coisa, senão eu acabaria doente e morreria cedo.
(...)
Segui pela mesma trilha um tempão, tinha a sensação de estar em um labirinto. Será que tinha ido parar em Nova Petrópolis? Havia ouvido falar de um labirinto por lá. O fato é que passei horas perambulando, buscando o caminho de volta para o hotel. Nem sentia mais frio, e conforme caminhava, também nem pensava mais em nada. Fui em frente, para algum lugar que eu desconhecia, mas me sentia estranhamente mais tranquila. Toda aquela movimentação estava me fazendo bem.
Finalmente, avistei no alto de um barranco uma grande construção com um terraço mal iluminado. Seria o hotel? Não parecia. Encontrei onde apoiar os pés, agarrei-me a um tronco de árvore e consegui alcançar o casarão. Fiquei impressionada com minha escalada noturna e minha entrada pelo terraço de forma lépida, sem mesmo a turma que se encontrava ali notar minha chegada. Até que eu estava em boa forma! Eu me materializei no terraço sem afetar o ambiente, ou será que eu tinha virado um fantasma? Tudo estava mesmo muito esquisito.
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