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  • Foto do escritorCMurville

A BOLSA


– Que bolsa linda! Adorei.

– Feita à mão. Design exclusivo. Qualidade Top! – explicou a vendedora.

– Maravilhosa! Acho que vou levar.

Tinha um jantar requintado na sexta-feira, só com gente elegante da sociedade. Queria impressionar a plateia.

– E quanto custa?

O preço era bom, considerando a confecção impecável. A moça voltou a examinar o item exclusivo que segurava nas mãos. Costumava comprar bolsas muito mais caras do que esta, no cartão de crédito e em inúmeras prestações. Mas que marca era esta? Não conhecia. Como ir a um evento chique usando bolsa nacional?

– Peça única, numerada – insistiu a vendedora, captando os pensamentos da cliente.

A bolsa era mesmo lindíssima, seu coração lhe dizia para comprá-la. Mas nunca tinha ouvido falar dessa marca e nenhuma de suas amigas tinha bolsa nesse estilo, ponderava a mulher. Imagine aparecer em acontecimento social sofisticado, só com gente bem vestida, com uma bolsa de marca desconhecida, apesar de vistosa! Não queria destoar do grupo que só desfilava com roupas e acessórios assinados por estilistas estrangeiros renomados. Senão, o que iriam dizer e pensar dela?

Enquanto refletia, passava suas mãos delicadas sobre os cabelos longos, devidamente alisados para acompanhar a tendência dos penteados da atualidade. Em sua cabeça, uma jovem bem arrumada e atraente tinha cabelos longos e lisos. E sua cabeleira era muito rebelde. Rendia-se, então, aos cremes e procedimentos de alisamento diversos para esconder seus cachos e ser sempre vista em conformidade com o que julgava ser o padrão de beleza socialmente bem aceito.

A moça examinou uma última vez a bolsa, mas acabou saindo da loja sem ela. Apesar de desesperadamente querer marcar uma identidade pessoal e se destacar da multidão, andava exatamente igual às colegas que também se esforçavam em seguir rigorosamente a moda, com cabelos longos e lisos, aquela cor de esmalte, o mesmo tipo de sandália, roupas e assessórios só de grife conhecida ou de marca boa estrangeira.

Mas o mais terrível de tudo foi que, na festa da sexta-feira, uma socialite importante apareceu com uma bolsa igualzinha à que deixara de comprar! E era só não seguir o coração para o olho gordo se manifestar!


Miniconto publicado na Divulga Escritor: Revista Literária Lusófona, em 2019.


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