A luminosidade era fraca, não dava para enxergar direito. Eu ouvia murmúrios abafados, misturados a sons que eu não sabia identificar ao certo de onde vinham.
De repente, senti um aperto tremendo no corpo, um gosto diferente na boca e o cheiro no ambiente também mudou. Logo notei que o local no qual me encontrava começava a encolher. Mais uma espremida violenta e o meu coração disparou. Não havia mais espaço suficiente para mim. Que sufoco! Eu precisava urgentemente sair dali.
Felizmente, surgiu uma luz no final do túnel. A luz, a princípio tênue e incerta, aos poucos foi se expandindo, ganhando brilho e transformando-se em um portal luminoso. Eu tinha que aproveitar a oportunidade que se apresentava à minha frente. Então me estiquei, indo ao encontro dessa luz, até conseguir colocar a cabeça para fora do cantinho apertado no qual vivera até então.
Barulhos, luzes e odores estranhos agrediam meus sentidos. E que frio! Chorei. Puxaram-me com firmeza, me carregaram e manipularam. Perdi completamente todas as minhas referências. Onde estava eu? Que mundo hostil era esse à minha volta? Agora, eu berrava e esperneava. Meus pulmões queimavam de tanto que eu gritava.
Em meio à confusão e ao desespero que sentia, ouvi uma voz bem conhecida que me chamava para junto dela. Acalmei-me. Pairava no ar uma fragrância que eu também reconhecia e, então, logo me vi em um colo aconchegante. Sabia de quem era; daquela que por tantos meses me acolhera em seu ventre, oferecendo a sua energia feminina de materialização e o seu corpo para que eu pudesse também ganhar um corpinho e aparecer no mundo.
Ela me observava com carinho. Havia amor em seu olhar, amor de quem não quer nada de ninguém e zela para que todos fiquem bem. Ela estava feliz e eu também. Eu descobria a fisionomia luminosa daquela que havia sido meu portal de entrada na Terra. Sentia-me segura nesse colo quentinho e perfumado, que transbordava de ternura. Finalmente, adormeci em berço esplêndido, junto ao peito da mãe que me acolhia em seus braços!
"Portal de Luz" foi publicado na 34ª Divulga Escritor: Revista Literária da Lusofonia, p. 44, em maio de 2018
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