Pig vivia na lama, o local era fedido, cheirava estume. Assim como ele, a turma toda à sua volta andava recoberta de cracas nojentas. Nem dava para saber exatamente quem era quem, pois todo mundo vivia enlameado, sujo, misturado, com um pisando na cabeça do outro, brigando para tentar cavar para si um lugar ao sol, sem conseguir enxergar muito além do próprio umbigo. Mas o povo achava que a vida era assim mesmo; uma luta constante e implacável pela sobrevivência, para tentar sobressair em meio à lamaceira.
Mas, um dia, Pig encontrou um professor que o ensinou a ver o mundo no qual estava atolado e lhe falou de outras paragens, limpas, cheirosas e luminosas. O professor o ajudou a sair da lama, servindo-lhe de apoio para que alcançasse a margem do lamaçal e conseguisse se erguer, encontrar terra firme e sair do buraco no qual vivera encalacrado tantos anos.
Agora, Pig sentia a grama acariciando seus pés, descobria o perfume das flores, ouvia os passarinhos, e, aos poucos, foi se chacoalhando e se livrando da sujeira que o recobria. Sentia-se mais leve e feliz. E quando olhou para trás, viu seu professor enfiado na lama. Que horror! Como ele ainda continuava ali, naquele fedor insuportável, no meio daquele povo que só pensava em si e em tirar vantagem de tudo e todos?!
Finalmente, Pig entendeu que o professor tinha ido para aquele mundo fedido justamente para ajudá-lo a sair de lá. Pig sentiu enorme gratidão pelo Mestre, que continuava enfiado na lama, até o pescoço, fazendo seu trabalho de sempre, ajudando incessantemente outros a também saírem de lá, mostrando a sujeira na qual todos estavam metidos e indicando o caminho para ambientes mais arejados e limpinhos.
Pelo resto de sua vida, Pig honraria seu professor, que o havia tirado da lama e ajudado a acessar mundos mais alegres, leves e iluminados.
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