Meu vizinho tem uma Ferrari último tipo, super possante, na garagem. Mas ele perdeu a chave da garagem e não se recorda onde a colocou. Tem ido, então, de ônibus ao trabalho. Anda chovendo muito e fazendo um frio danado, e ele ainda pega a condução lotada. Um verdadeiro inferno! E, agora, depois de dias nessa rotina sofrida, parece que nem se lembra mais de sua Ferrari! Acostumou-se a ir de ônibus ao serviço.
Recordei-me da inscrição da porta do inferno da Divina Comédia de Dante Alighieri que diz: “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança!”
Será que no inferno é assim; as pessoas esquecem completamente quem são e vivem com suas virtudes e seus potenciais adormecidos, que ficam então em casa?! Nem se dão conta de que estão em mundos inferiores, de baixa vibração, e tampouco se recordam de que têm uma Ferrari na garagem! Não exercem sua iluminação, suas virtudes, seus potenciais e acabam se acostumando à mediocridade na qual vivem. Com a memória comprometida, seguem vivendo em condições muito aquém de suas reais possibilidades, desconectadas da fonte de vida, de si mesmas, tornando o retorno para paragens mais luminosas muito difícil, quase impossível!
Mas como abandonar toda a esperança? Certo que, no inferno, ninguém tem consciência clara de onde foi parar. A turma ali logo se acostuma e acaba achando normal o cenário à sua volta, com gente ardilosa, mentirosa, fofoqueira, interesseira, que vive afastada de sua natureza divina e eterna, com uma visão limitada da realidade na qual está mergulhada. Com a memória cortada, esqueceu-se de quem é, de seu potencial de luz.
No entanto, somos Ferraris! Mas por que a deixamos na garagem?!