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  • Foto do escritorCMurville

RETRATOS


Peguei um álbum de fotografias antigas. Vi titia já falecida fazendo bolo, a mãe novinha e de biquíni, vovô cabeludo e o pai ainda bebê!


Fui transportada para outros tempos, das fotos. Lembrei dos quitutes de titia e das histórias que vovô contava, vi a mãe na praia e o quanto o pai era lindo!


Continuei folheando o álbum. Tinha fotos de escola, das férias, do Natal... Algumas me traziam alegria, outras nem tanto. Logo entendi que o retrato é um portal para aquele universo das pessoas que aparecem na foto, uma abertura para outro tempo e espaço.


Também tinha retrato meu de quando bebê, criança, mocinha ... Como estava bonitinha aqui, mas que cabelo esquisito ali?! E que roupa era aquela? Tudo muito diferente de hoje! Estamos sempre mudando. Certamente, eu e meus parentes não somos nenhuma daquelas personagens que aparecem nas fotos do álbum de família e tampouco a imagem que vemos refletida no espelho. Como definir alguém a partir da forma e da aparência mutáveis e referentes a algum momento fugidio qualquer?


Olhei pela janela. A vizinha regava o jardim. Porém, agora, eu já sabia: qualquer imagem que eu criasse em minha mente a respeito dela, ou de mim, seria somente uma criação minha. Mas como é fácil aprisionar o outro em alguma ideia nossa, pessoal, sobre ele! Logo, melhor jogar fora ideias preconcebidas sobre as pessoas. Assim, evitamos aprisioná-las em criações mentais particulares e tendenciosas, eventualmente remetendo ao passado, a uma situação que já não existe mais, e deixando escapar o presente!


Lembrei de gente que não faz questão de ser fotografada. Será que é para evitar que fique cristalizada na mente dos outros uma condição passageira a envolvendo, que não estará mais presente logo adiante? De fato, que indelicadeza amarrar alguém no tempo, em uma condição do passado!


Estamos em um universo de passagem e a beleza do processo é conseguir observar isso.


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